2006/02/24

 




Na senda de obras de carácter memorialista e tom confessional, a escritora Filomena Mónica apresenta-nos o seu livro mais recente: “Bilhete de Identidade”.
Sem vergonha, a autora desfia uma história pessoal que decorre de 1943, data do seu nascimento até 1976, um ano após a revolução dos cravos.
A atitu
de de voyeur é talvez a primeira motivação para a leitura deste livro, mas impõe-se logo uma outra atitude mais séria perante a honestidade dos factos relatados. Da ingenuidade até à indignação, é toda uma gama de sentimentos e emoções que se consomem no texto e nos agarram enquanto leitores.
E se aparentemente este livro diz mais a uma geração próxima da autora, o certo é que os mais jovens se identificarão com certas vivências intemporais.

2006/02/22

 
D'este viver aqui neste papel descripto de António Lobo Antunes é o conjunto de cartas ou aerogramas que datam de Janeiro de 1971 até Janeiro de 1973 escritas à mulher enquanto o autor cumpria o serviço militar em Angola.
Intituladas cartas de guerra, elas são essencialmente cartas de amor e como diria Fernando Pessoa "rídículas". Senão vejamos:Minha flor bonita, meu passarinho,minha estrela do mar eu adoro-te até ao fim do mundo. No entanto são mais do que isso, porque o seu autor nos dá conta de um período da nossa história onde se proclama por exemplo a sua indignação por estar naquele local.
As exigências com a escrita de um romance que compunha na altura revelam já a garra do escritor que viria a ser.

2006/02/21

 
Experiências pedagógicas

No mesmo dia em que se inicia uma greve dos professores às actividades de substituição de docentes que faltam, o primeiro-ministro anuncia que essas actividades do ensino básico serão obrigatórias também para o ensino secundário.
Mais uma vez os responsáveis por medidas pedagógicas descuram da avaliação e impacto da experiência e correm para a sua continuação e desenvolvimento noutro sector da educação. Fecham os olhos ao descontentamento dos profissionais que têm a seu cargo a implementação dessa medida e em nome da estafada “qualidade de ensino”preferem a todo o custo a continuidade das suas políticas.
Ora é voz corrente que as ditas aulas de substituição, nos moldes em que foram implementadas, redundam em tempos de quase nenhuma utilidade pedagógica e atentam contra direitos dos docentes consignados no Estatuto da Carreira Docente.
É urgente repensar as políticas educativas, tendo em conta a avaliação de todas as medidas implementadas no terreno.

2006/02/19

 
“No dia seguinte ninguém morreu.”

É assim que começa a mais recente obra de José Saramago “As Intermitências da Morte”
A morte não saiu à rua, mesmo num dia de grande mortandade, como é o da passagem de ano e num país, que só não é Portugal porque é uma monarquia com um Rei.
José Saramago é conhecido por introduzir um acontecimento improvável, fantástico ou irreal logo no início da narrativa e depois simplesmente descrever as alterações no quotidiano.
Neste caso, esse acontecimento passou de alívio a pesadelo.
“Um dia, uma senhora em estado de viúva recente, não encontrando outra maneira de manifestar a nova felicidade que lhe inundava o ser, e se bem que com a ligeira dor de saber que, não morrendo ela, nunca mais voltaria a ver o pranteado defunto, lembrou-se de pendurar para a rua, na sacada florida da sua casa de jantar, a bandeira nacional. Em menos de quarenta e oito horas o embandeiramento alastrou a todo o país, as cores e os símbolos da bandeira tomaram conta da paisagem, com maior visibilidade nas cidades pela evidente razão de estarem mais beneficiadas de varandas e janelas que o campo…. Nem tudo é festa, porém, ao lado de uns quantos que riem, sempre haverá outros que chorem, e às vezes, como no presente, pelas mesmas razões. Como seria de esperar, as primeiras e formais reclamações vieram das empresas do negócio funerário.”
Livro que mais uma vez revela um autor genial, intenso e brilhante. As reflexões sobre a morte ainda me perseguem, mas abrem caminho a um apaziguamento deixado pelo prazer da leitura.

 
Leitura em dia

Li recentemente três livros que recomendo vivamente. São os seguintes: Bilhete de identidade de Filomena Mónica, Intermitências da morte de José Saramago e D'este viver aqui neste papel descripto de António Lobo Antunes.

Deles farei uma breve reflexão em próximos "posts".

2006/02/18

 
Depois de uma longa ausência, apeteceu-me voltar a desabafar para o blog as minhas reflexões e opiniões.
Penso que isso se ficou a dever em parte à minha participação nas correntes d'escritas, acontecimento literário da Póvoa de Varzim. Foi aí que ouvi um grupo de escritores, que falaram sobre a literaturablogosfera.com. E foi gratificante consultar alguns "blogs" que servem de suporte a emanações literárias. Destaco entre eles, o de Waldir Araújo:http://riogeba.blogspot.com/

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