2006/02/19

 
“No dia seguinte ninguém morreu.”

É assim que começa a mais recente obra de José Saramago “As Intermitências da Morte”
A morte não saiu à rua, mesmo num dia de grande mortandade, como é o da passagem de ano e num país, que só não é Portugal porque é uma monarquia com um Rei.
José Saramago é conhecido por introduzir um acontecimento improvável, fantástico ou irreal logo no início da narrativa e depois simplesmente descrever as alterações no quotidiano.
Neste caso, esse acontecimento passou de alívio a pesadelo.
“Um dia, uma senhora em estado de viúva recente, não encontrando outra maneira de manifestar a nova felicidade que lhe inundava o ser, e se bem que com a ligeira dor de saber que, não morrendo ela, nunca mais voltaria a ver o pranteado defunto, lembrou-se de pendurar para a rua, na sacada florida da sua casa de jantar, a bandeira nacional. Em menos de quarenta e oito horas o embandeiramento alastrou a todo o país, as cores e os símbolos da bandeira tomaram conta da paisagem, com maior visibilidade nas cidades pela evidente razão de estarem mais beneficiadas de varandas e janelas que o campo…. Nem tudo é festa, porém, ao lado de uns quantos que riem, sempre haverá outros que chorem, e às vezes, como no presente, pelas mesmas razões. Como seria de esperar, as primeiras e formais reclamações vieram das empresas do negócio funerário.”
Livro que mais uma vez revela um autor genial, intenso e brilhante. As reflexões sobre a morte ainda me perseguem, mas abrem caminho a um apaziguamento deixado pelo prazer da leitura.

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