2004/04/30

 
O mal das democracias

Já em posts anteriores, nomeadamente em relação ao atentado de 11 de Março em Espanha, salientei o facto de haver o perigo da comunicação social não dar a verdade aos leitores, dada a sua tendência para propagar a "verdade" oficial dos governos. Há também e principalmente a sua dependência da economia.
Hoje li no Público um artigo sobre a opinião de Ignacio Ramonet, director de "Le monde diplomatique" que afirma que as democracias vivem em "insegurança informacional". Diz o autor o seguinte: "Como cidadão constato que os "media", que em ditadura eram uma solução, agora livres pôem um problema à democracia, porque ocultam a clareza do debate, falsificam o debate. Entramos numa era de suspeita e é necessário que os cidadãos dêem à comunicação social os meios para se tornar melhor" e ainda "Eu, cidadão, quando recebo uma informação não sei se é verdadeira ou falsa"
Vem a propósito lembrar o que Saramago disse na apresentação do seu último romance em Madrid: "Na Europa, há um país, o meu, no qual uma sondagem recente revelou números preocupantes... Em Portugal, que é uma democracia, 200 mil pessoas passam fome, existem dois milhões de pobres numa população de dez milhões e temos 500 mil desempregados".

2004/04/26

 
Isabel do Carmo incomoda muita gente

Logo de manhã fui confrontada com as notícias da Antena 1 sobre este episódio triste protagonizada pelos dirigentes do PP. Que ideia fazem eles de democracia? Não estar presente na cerimónia de entrega da Ordem da Liberdade a Isabel do Carmo sob pretexto de esta ter alegadamente feito parte de luta armada- facto não provado nos tribunais portugueses-é na minha opinião um resquício de reacionarismo. Com toda a propriedade respondeu a visada: até me sinto lisongeada pelo facto de me rotularem assim por parte de pessoas que são do 24 de Abril e não do 25 de Abril. Também o Presidente da República respondeu durante a cerimónia de entrega das condecorações ao referir que o 25 de Abril é de todos e que cada um à sua maneira contribuiu para a queda da ditadura e a instauração da democracia, fosse pela participação cívica tolerada pelo regime , fosse pela intervenção política, correndo os seus agentes o risco da prisão e do exílio .

2004/04/25

 
A geração dos cravos

É este o título do editorial do Courrier International, um semanário francês que dedica a Portugal um dossier completo- 25 avril 1974, la révolution des oeillets, 30 ans aprés - cuja capa é um cartoon de António, que é a mesma da revista Única do último Expresso: o Zé Povinho transformado em cravo. No Editorial, Philippe Thureau- Dangin fala da imagem que os franceses têm de Portugal pós 25 de Abril. Destaca o facto de que pela primeira vez na Europa um exército fez uma revolução DE ESQUERDA e deu um sinal a toda a Europa. Assim aconteceu em Espanha com a transição para a democracia após a morte de Franco; o fim do regime dos coronéis na Grécia e as reformas liberais em França com a chegada ao poder de Giscard, nomeadamente o direito ao avorto.... O articulista convida ainda os leitores a ver uma exposição de António no Centro Cultural Calouste- Gulbenkian e assistir a um debate com Mário Soares e Eduardo Lourenço no dia 27 de Abril às 18 h 30.

 
O 25 de Abril

Aproveitando a minha estada em Lisboa durante o fim de semana, quis celebrar o 25 de Abril assistindo na noite de 24 no Terreiro Do Paço aos espectáculos de rua, uma iniciativa da Câmara Municipal, com um belo fogo de artifício e muita música com a Ala dos Namorados, Da Weasel, Gaiteiros de Lisboa eo grupo Toca a Rufar. Este último mereceu-me atenção especial pelo facto de ser um projecto que nasceu com a Expo numa oportuna iniciativa de integrar jovens de bairros carenciados de Lisboa. Durante o espectáculo fez-se um mural de 60metros quadrados- participação de 30 jovens artistas plásticos- concepção: Leonel moura com Marta Marta Wengorovius. O povo acorreu a estas comemorações e outros eventos um pouco por toda a cidade. Já há muitos anos que não sentia o pulsar da vida na noite da cidade com tanta emoção.

2004/04/18

 
Lisboa é sempre Lisboa

Eça de Queirós afirma n'Os Maias que "Portugal estava todo entre a Arcada e S. Bento".
Vem isto a propósito da constatação de que muitos dos espectáculos culturais só acontecem na capital. Foi o caso do belíssimo espectáculo de Dança Contempoânea Africana que esteve na Culturgest em 16 e 17 de Abril e que eu tive a sorte de ver. "ORI" pela Ijodee Dance Company do Senegal, "Tichelbé" pela La Compagnie do Mali e "Um solo a quatro" de Augusto Cuvilas de Moçambique constituiram cada um a seu modo momentos mágicos que ficam gravados na memória do espectador para sempre. Uma das suas qualidades foi a de mostrar que, independentemente das raízes étnicas, a dança é uma arte universal. Para os apreciadores desta arte recomendo a leitura de um artigo do próximo jornal Expresso, onde talvez encontrem a autora deste blog.
E a propósito de bons momentos de Arte em Lisboa, no próximo fim de semana terá lugar no CCB a Festa da música em homenagem a Chopin, Schumann, Liszt e Mendelssohn. Lá estarei presente de novo e lá terei de gastar mais uns euros em prol da cultura.
Ainda aproveitei a minha estada em Lisboa para autografar o livro de Saramago "Ensaio sobre a Lucidez" na Fnac do Chiado. Em breve voltarei a falar da impressão de leitura deste romance.

2004/04/11

 
Quem sou eu ?
Não me importo com o facto de me rotularem de isto ou aquilo por causa do que escrevo. Apenas me considero uma mulher que acredita nos princípios da Revolução Francesa: igualdade, fraternidade e liberdade. Ao ler os artigos de hoje do Público de António Barreto e de Pedro Miguel Melo de Almeida, mais convencida fiquei disso, pois subscrevo inteiramente o que afirmam nos seus artigos.

 
"The Brown Bunny" ou o filme maldito

Maldito por causa da cena de sexo oral que escandalizou Cannes, durante o festival de 2003. Mas o problema não é esse, pois o que chocou o conjunto de pessoas, que assobiaram ou se manifestaram contra, foi o individualismo manifestado no filme. Vincent Gallo, protagonista, faz quase todo o filme solitariamente, ao ponto de transportar a maquinaria na carrinha que o leva a si e à sua mota de uma costa a outra dos Estados Unidos. Para os mais puritanos é bom saber que a cena de sexo é a última do filme e sobre isso limito-me a transcrever as palavras da actriz que a protagoniza: "Foi a coisa mais difícil que fiz durante a minha carrreira. Só pensei que tinha que confiar no bom gosto do Vincent e na sua visão e saber que ele ia fazer uma cena romântica, especialmente porque o meu papel no filme é uma fantasia. Não interpreto uma pessoa real, mas a ideia que a personagem de Vincent tem da minha pessoa quando era viva. Basicamente é um anjo, carinhosa, compreensiva. Foi um desafio o facto de só representar boas emoções, foi difícil."

2004/04/10

 
"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ"
"O que se passa comigo, nesta altura da minha vida, pode ser traduzido em quatro ou oito palavras. Quanto mais velho, mais livre eu me sinto. E quanto mais livre me sinto, mais radical. E este livro aposta na radicalidade que aguenta ou não aguenta. E o meu nome está lá, fui eu que escrevi. Não faltará quem diga que eu acabei de fazer demagogia. Mas a demagogia má é sempre a dos outros" JOSÉ SARAMAGO durante a apresentação de "Ensaio Sobre a Lucidez" no Porto".
Ainda me encontro a ler as primeiras páginas do romance de Saramago, mas já dá para perceber a polémica que gira à sua volta. No entanto, o que realmente se passa na cabeça da maioria dos votantes é aquilo que descreve o autor do Ensaio Sobre a Lucidez. Mais, estou convicta de que, se não existisse caciquismo e demagogia dos candidatos a políticos, o número de abstenções seria muito maior do que o habitual.
Apesar disso, é evidente que numa democracia é preciso votar naqueles que nos representam nas diferentes instituições políticas, visto que não há outra saída. Mas no que eu acredito verdadeiramente é na cultura de movimentos cívicos independentes dos partidos e da sua pressão sobre o poder. Podem achar que isto é demagogia, mas tal como Saramago afirma: a demagogia má é sempre a dos outros... .

This page is powered by Blogger. Isn't yours?